Caretos

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Permanecem vivos na memória dos mais velhos os caretos de Pinela, que saiam à rua entre a Consoada e os Reis. Envergavam pesados fatos, feitos com velhas cobertas de lã, franjados e coloridos; à cinta penduravam ruidosos chocalhos e cobriam o rosto com máscaras de latão vermelhas. “Faziam as máscaras com o latão dos caldeiros velhos e estragados, pintavam-nas de vermelho porque era a cor que se usava para pintar as rodas dos carros de bois, e tinham-na à mão, depois com um carvão do lume faziam os desenhos”, recorda Julieta Rodrigues, artesã que recriou as máscaras de outros tempos.
E assim, completamente mascarados saiam à rua, com uma enorme vara, o “espeto”, que no cimo levava uma maçã, colhida na própria horta.
De porta em porta iam recolher a “esmola” sem nunca estenderem a mão. “Estendiam o espeto e cada qual colocava lá o que queria, podia ser lombo do porco ou alguma peça de fumeiro”, conta aos 98 anos Maria Antónia da Costa.
Julieta Rodrigues explica que era uma forma de pedir sem mendigar: “Os caretos eram por norma oriundos das famílias mais pobres, que arranjavam, desta forma, maneira de passar melhor os dias entre o Natal e os Reis, nada tinham e as oferendas das pessoas davam para aconchegar mais as despensas”.
Estes Caretos só saiam à rua, sem nunca falar nem mostrar o rosto, até à meia-noite do dia 6 de janeiro, “diziam os antigos que se permanecessem vestidos depois da meia-noite se transformavam em bichos”. Não se sabe se seria assim ou não, “porque nunca se viu nenhum careto na rua depois dessa hora, as pessoas respeitavam e temiam estas crenças”.
Esta figura diabólica e horrorosa era temida pelas crianças e pelas raparigas novas. Aos mais novos assustavam-nos e puxavam-lhes o cabelo, às raparigas “chocalhavam-nas” energeticamente, o que as fazia fugir dos caretos.
Com o passar dos anos, com o despovoamento da aldeia, a tradição perdeu-se mas a memória dos mais velhos permanece intacta. Algumas famílias ainda guardam orgulhosamente os fatos “ou fardas”, como lhe chamam os mais velhos, e fruto do incentivo e da valorização das máscaras e dos caretos no concelho de Bragança, um grupo pequeno de Pinela, com pessoas de diferentes idades, participa com regularidade no desfile de Caretos que acontece na cidade de Bragança por altura do Carnaval.