Minas

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Os trabalhos nas minas

Terá sido por volta do ano de 1900 que as minas de Volfrâmio e Estanho de Paredes, concelho de Bragança, se tornaram na principal fonte de rendimento da população local e das aldeias vizinhas. De acordo com os relatos de alguns trabalhadores das minas, “ganhava-se muito”, para a época e era um serviço que mesmo sendo duro compensava.
Nesta altura o minério era exportado e durante muito tempo as minas de Paredes foram propriedade de estrangeiros. Nomes como o Sr. Laporte, seguindo-se o Sr. Jacomi (ambos de origem francesa), ainda são recordados pelos mais velhos.
Neste tempo e até aproximadamente 1940, o quilograma de volfrâmio valia cerca de 4$00 e o de estanho 7$00. Em paralelo no mercado negro (feito pelas pessoas que roubavam da mina a sucata), o quilograma valia cinco ou seis vezes mais.
Por alturas da Segunda Guerra Mundial, precisando a Europa de material para armamento, a actividade mineira registou a sua época áurea.
O incremento do preço do volfrâmio foi deveras notório aumentando quase vinte vezes mais. Em posse da mina estava, à época, um casal de Espanhóis.
Recordam os idosos e os filhos de mineiros com melhor memória, que a atividade mineira cessou por volta de 1975, sendo o dono o Sr. Marcolino.
As minas foram fonte de subsistência para a grande parte da população da aldeia e para centenas de pessoas que para aí migraram na esperança de encontrar com que fazer uma vida melhor.
A mina era dividida em partes onde cada uma fazia o que lhe era devido, uns trabalhavam na zona dos fornos que derretiam a altas temperaturas o volfrâmio e o estanho, outros eram os guardas do sítio e havia ainda os chamados “olhadores” que tinham como função ver se alguém levava o que não lhe pertencia.
Os mineiros tinham diferentes tarefas desde picar o solo a carregar as sacas e transportá-las. Andavam vestidos com um fato de corpo inteiro, casacos de oleado e galocha até ao joelho.
Quanto ao trabalho das mulheres a sua tarefa dentro da mina era essencialmente a selecção e a lavagem do minério, também podendo carregar as sacas de terra e colocar o minério na mó que o moía com a ajuda de um rodo.
Maria Antónia da Costa, nascida em 1917, começou a trabalhar nas minas com 18 anos. Conta que carregava as sacas de terra, dos poços que os homens escavavam, para a casa da lavagem, um local onde a terra era separada e as pequenas pedras de minério recolhidas. “Trabalhávamos em equipa, enquanto uma mulher carregava as sacas outra lavava a terra para escolher o minério”, recorda. “Depois íamos trocando as tarefas porque puxar às sacas era mais difícil”. No final do dia dividiam o lucro das vendas. Quase sempre entregavam o minério ao dono das minas mas se houvesse oportunidade preferiam vendê-lo no mercado negro, “pagavam muito melhor”.
Maria Antónia recorda como o estanho começou a desvalorizar e a atividade tornou-se pouco lucrativa, mas houve uma altura em que, em conjunto com outras mulheres, encontrou um filão de aço que lhe valeu para sustentar a família alguns anos. “Pois, primeiro não queriam o aço, então deixavam-no num canto, ninguém lhe pegava, depois começou a valorizar mais e nós tivemos a sorte de encontrar um montão dele que a mim me rendeu 20 contos, naquela altura”, recorda.
A atividade acabou por ser abandonada e hoje ficam apenas as memórias dos tempos em que as minas eram o sustento de centenas de famílias.
Atualmente, ainda se encontram pedras desses minerais quando se passeia no campo, perto dos antigos poços. O que resta das minas são alguns edifícios em ruínas que eram utilizados nessa altura, mas principalmente a beleza paisagística que as envolve.

 

Cantigas das Minas

Hino ao Mineiro


Paredes terra de fama,

De Janeiro a Janeiro,

Foi no tempo do volfrâmio,

Aldeia de muito dinheiro.


A mina tinha muitos nomes,

Que na altura a gente lhe deu,

Foi na casa da mocha,

Onde o minério apareceu.


Donde saiu muito minério,

Nessa época de então,

O lugar muito conhecido,

A galeria do Zé Carção.


Um lugar muito bonito,

As “chabolas” e com razão,

Não esquecendo o “farruco”,

Ai, que bela recordação.


Vinte e cinco tabernas havia,

Nesta aldeia de trabalhos,

Comia-se a boa carne,

Dos famosos quatro talhos.

A mina


A mina da nossa aldeia,

Muita gente desgraçou,

Mas afinal de contas,

Muito dinheiro se ganhou.


Nos túneis das minas,

Os homens vão carregar,

Para as mulheres cá fora,

Irem o minério lavar.


Há homens sempre a cantar,

E mulheres sempre a lavar,

Pois com cantar e com lavar,

Se consegue dinheiro juntar.


Chegadas as mulheres,

O almoço vão estender,

Os homens deixam o trabalho,

Que é hora de ir comer.


Para o túnel vão os homens,

Só eles a escavar,

E há uma que vai atrás,

Para o minério carregar.


Quanto o trabalho era muito,

A gente punha-se a cantar,

E chegada a hora de partir,

Tudo havia que encartar.